Em entrevista ao Terra, os irmãos falaram deste novo trabalho, de suas influências e da relação entre eles. Perguntado se um se imagina longe do outro, Victor admitiu que a dupla já se questionou sobre uma possível separação: "já tivemos crises de contestar o porquê de estarmos juntos. Foram várias conversas no decorrer da carreira...Eu me sinto agradecido. Eu tenho o sentimento de gratidão por ele existir quando estou no palco...".
Terra - Vocês gravaram recentemente o DVD Ao Vivo em Floripa. Por que escolherem aquela cidade?
Victor - Nós já tínhamos essa vontade fazia tempo, não só se tratando de Floripa, porque dispensa comentários, mas também pelo estado e pela região. Sempre nos demos muito bem com o Sul e mantemos um carinho especial pela cultura sulista. Decidimos que arranjaríamos alguma forma para gravarmos e registrarmos um show ao vivo em formato de DVD.
Terra - Vocês lançaram em 2011 o álbum Amor de Alma que traz influências de suas origens. Falem sobre este trabalho e suas inspirações para compô-lo?
Leo - Em quase todos os discos, nós fizemos alguma regravação, com exceção do álbum Borboletas que foi 100% autoral. Desde Ao Vivo em Uberlândia, em todos os outros trabalhos, a gente teve alguma regravação. Por termos cantado muito em bares, durante 15 anos, a gente tem muitas músicas que marcaram nossas vidas, nossas carreiras, que fizeram parte da nossa história e que a gente tem uma relação de amor com a canção. Todas as músicas que nós regravamos tem essa história, inclusive Sexy Yemanjá, que a gente cantou em bar durante muito tempo, em 92 e 93, porque foi o tema de uma novela (Mulheres de Areia) quando a gente estava começando a cantar. Um dia, no estúdio, o Victor tava dedilhando ela no violão, enquanto fazíamos os arranjos e produzíamos um CD e tivemos a ideia: por que não regravar? A geração mais nova não conhece, Pepeu Gomes e Tavinho são grandes compositores, a gente adora a música, vamos fazer. Só que nós sempre fazíamos uma releitura. A gente gosta de colocar nossa digital, de diferenciar, fazer o trabalho com originalidade, independente de ser nosso ou de outras pessoas. Isso aconteceu também com Fuscão Preto, que lembra muito nossa infância, e O Doutor e a Empregada, um clássico que ficou conhecido com o Trio Parada Dura. E aí foi quando o Victor teve a ideia de fazer, no pout pourri, um medley com a junção dessas duas músicas.
Victor - Das 12 faixas, três são regravações: Sexy Yemanjá, esse medley que o Leo citou e o terceiro foi um medley de duas guaranias: Passe Livre, que Teodoro e Sampaio gravaram e a gente ouvia isso muito, e Se Eu Não Puder Te Esquecer, do Moacir Franco, que também se tornou famosa na voz de João Mineiro e Marciano. As regravações - assim como as composições - não partem de um princípio mercadológico, partem de um princípio de emoção, história e identificação com a música. Todas elas representam fases e gravamos mesmo que elas já tenham sido gravadas muitas vezes, como a Telefone Mudo, do disco Ao Vivo em Uberlândia, porque elas ficam do nosso jeito.
Terra - Neste novo trabalho as músicas são mais dançantes, diferentemente dos outros álbuns da dupla que contém canções mais românticas. Por que esta mudança?
Victor - Eu tenho a sensação que ele ficou mais pra cima, sim. Mas isso foi muito natural, não foi pensado. A gente vai pro estúdio e sai impresso aquilo que estamos vivendo agora. No CD anterior, por exemplo, Boa Sorte pra Você foi um disco mais bucólico, mais lento, pra ouvir numa viagem, era o momento que a gente tava vivendo. E o mercado não pedia isso. Aí tiramos férias, paramos pra descansar e aí ficou um CD com mais gás, mais vontade e automaticamente mais pra cima. Quando você produz e arranja seu próprio trabalho, vai sair a verdade que está dentro de você.
Terra - O gênero sertanejo se banalizou com o surgimento de novas duplas que se classificam como "sertanejo universitário"? Vocês acreditam que o verdadeiro significado do gênero não está mais sendo explorado?
Leo - Seria natural que o estilo mudasse com o tempo, assim como outro qualquer. O pop, MPB, axé, samba, rock, forró e todos os outros são feitos hoje de forma diferente do que se fazia há anos atrás, acompanhando as tendências naturais da música brasileira. A música hoje é feita de forma mais universal, e isso é muito positivo. Esse é o grande passo que deve ser reconhecido e comemorado, porque ele derruba algo que não merece espaço em lugar nenhum, principalmente na arte: o preconceito!
Victor - Todo mundo fica levantando uma polêmica de que o que se faz hoje não é mais sertanejo, que perdeu a essência, eu vejo isso com muita naturalidade. Qual música é igual a que se fazia anos atrás? É natural que os estilos evoluam, que as músicas mudem com o tempo, que mudem as tendências, os arranjos...A evolução musical, seja em que estilo for, é sempre um ganho para a cultura de um país. Sempre haverá o surgimento de novos artistas. O fundamental é que entre os novos, haja ousadia e criatividade mais e mais, e não a imitação gananciosa. Vejo a renovação como algo fundamental para a evolução.
Terra - Além do sertanejo, o que Victor & Leo escutam?
Leo - Escutamos de tudo, somos bem ecléticos. A música sertaneja de raiz está sempre presente. Música regional, pop, música popular no geral. Curtimos muita coisa internacional também.
Terra - Musicalmente, os irmãos se imaginam um longe do outro?
Victor - Já tivemos crises de contestar o porquê de estarmos juntos. Foram várias conversas no decorrer da carreira. Não podemos elevar a condição de irmão a uma obrigação profissional. A gente só canta junto porque quer. Depois que a gente incorporou esse pensamento, ficou mais confortável. Eu me sinto agradecido. Eu tenho o sentimento de gratidão por ele existir quando estou no palco. Vamos supor que aconteça um acidente e um dos dois morram. Não sei se vou continuar a cantar. Talvez pare mesmo.
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